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Poema

LUGAR DE POESIA

Passo

A foto é um registro que congela o tempo.

Brinca de pausar esse menino travesso que se chama tempo temporão. No tempo que brinca de se esvair os segundos escapolem da gente.

Correm, voam, escorregam. Levando os minutos, as horas, os dias, os meses e os anos o tempo inventa travessuras e faz travessia. O que perdemos e quanto de nós fica pelo caminho?

Entre achados e perdidos, quantos momentos são esquecidos?

Na lembrança, poeira e saudade.

A fotografia é um retrato que pausa o tic-tac que tiquetaqueia sem cessar para gravar uma memória traduzida em imagem.

Seja um sorriso, um olhar, um beijo, um abraço, uma felicitação.

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Rebeka Lúcio

Rebeka Lúcio [@rebekalucio] Atriz-pesquisadora, apresentadora, produtora cultural, viajante: contadora de histórias. Mestre em Artes.

  Casamento, batizado, aniversário, um momento a ser registrado que seja, é o que guardamos no álbum para recordar. Se diz o clichê que recordar é viver, o que reavivamos ao ver uma foto? Resquícios do que foi. Verdades imaginadas. Fragmentos do que foi vivido.

  Nesse entardecer, encaro o mofo para pescar memórias. Dentre muitos fragmentos de um tempo que corre e brinca de me fragmentar, encontrome com olhos de menina, descobrindo a vida que ainda nem compreendo.

  Brasília- Distrito Federal. 312 Norte. 16h, talvez, 17h, quem sabe 18h, pros lados do Planalto Central o crepúsculo demora mais a acontecer. Com sorriso nos olhos, sou vestida com a camisa de listrinha para o passeio que traz a tal vitamina D tão recomendada para fortificar os ossos e trazer saúde. Como um cachorro espilicute que adivinha a hora do passeio balanço os bracinhos no berço e me espevito como dança o cachorro com o rabo na hora de sair.

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  Na disciplina necessária aos cuidados com o bebê, minha mãe me abraça, me acolhe e me veste porque está na hora de sair para ver a vida, respirar a tarde e aspirar vitamina D, aquela tal. Antes, uma mamadeira? Talvez, é preciso passear bem alimentada.

  Aquele sabor de leite quentinho que acalma e alimenta. Com meses que se achegavam a sete eu já não mamava, mas a fome bezerril orquestrava o choro que se acalentava em seguida.

  No prédio que morava com meus avós e minha mãe, fim de tarde era hora de passear, como é comum aos bebês e aos cachorros. Nesse dia, com máquina em punho, em um tempo ainda não digital, em que os cliques e as poses eram mais seletivos, aquela que eu aprenderia a chamar de mamãe alguns meses depois, registrou meus primeiros passos.

  Sem titubear, sorri para a vida e andei. Com coragem. Sem medo. 1, 2, 3...

  Sequenciando passos, estava aprendendo a andar, afinal. Com todo ímpeto e coragem com que desbravamos a vida na fase inicial da vida, fui. Sem titubear. Sem ponderar o risco.

  Nesse momento gravado no fragmento do tempo que se nomeia fotografia, observo meus olhos, percebo o sorriso que vai ao encontro da fotógrafa e penso quanto de nós vai se esvaindo como as fotografias que amarelam com o tempo.

  Nas tardes que chegam e partem quanto de nós se despede depois de mais um dia? Onde me encontro? Onde me perco? Onde me resgato? O que a gente deixa de ser depois que cresce? Como um cachorro que balança o rabo na hora do passeio, talvez, seja preciso sorrir com os olhos, encarar o risco e se alegrar com um simples fim de tarde.

  Em que ponto do mapa estão suas raízes? Por onde voam suas asas e como você tem colorido memórias?

  Te convido a fazer um exercício imagempalavra, transmidiando saudades que passeiam na rota do tempo-temporão, em que você menino ainda não era essa criança grande de hoje cheia de adultices e obrigações na vida.

  Que tal resgatar uma foto antiga e revisitar por palavras sua antiga versão, descongelando-invencionando memórias do dia daquele registro congelado no papelfotográfico.

  O tempo não foi. Ele é. Traves(si)a…

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