LUGAR DE POESIA
Entrevista com Tainá Cleiane
E aí pessoal! E aí galera! Olha só quem tá voltando e em novo formato... É o "Lugar de Poesia" estreando na melhor versão entrevista e trazendo para vocês a poeta Tainá Cleiane que deu início a nossa série em vídeos no IGTV da @bccpufc.
Baticum Proletário
Baticum Proletário [@baticumproletario] Poeta, arte educador, educador social e estudante de Teatro (UFC).
Um salve para a poeta Tainá Cleiane. Essa cearense de 15 anos, moradora desde os 2, no bairro Couto Fernandes, que escreve desde os 6, e estuda na Escola Municipal de Tempo Integral Castelo Branco no bairro Montese. Tainá já participou de slams e saraus, entre eles o Slam das Minas e o Slam Entrelinhas. E eu sou Baticum Proletário. Agora ela vai nos responder algumas perguntas... Se intera só aí da conversa.
BATICUM - Como começou o seu interesse por poesia?
TAINÁ - "Não sei dizer ao certo, a poesia faz parte da minha vida desde que me entendo por gente."
BATICUM - Na sua poesia você fala sobre o quê? Quais são as suas motivações?
TAINÁ - "Falo sobre sentimentos, desde os melhores até os indesejados. Falo sobre minha vivência como sendo da minoria, como mulher negra e periférica. Falo sobre como me sinto e minha gratificação é ver outras várias pessoas se identificando com meus escritos."
BATICUM - Como você vê as movimentações de saraus, slams e poetas aqui em Fortaleza?
TAINÁ - "Acho que deveriam acontecer com mais frequência. Geralmente cada slam ou sarau acontece apenas uma vez ao mês, e em lugares consideravelmente longes. Espero que nos períodos seguintes se possa abranger ainda mais essa manifestação cultural."
BATICUM - Qual é o significado da poesia para você?
TAINÁ - "Não consigo resumir tudo o que ela significa em apenas uma palavra ou frase. Não me vejo sem ela; escrevo quando estou feliz, triste, com saudades, radiante. Sem dúvidas, não há nada e nem ninguém que me conheça melhor que meus cadernos. A poesia pra mim é uma garantia de que tudo um dia passa ou melhora; quem lê conhece inúmeras realidades, quem escreve, as sente. Então a poesia, para mim, é se permitir viver um mundo além deste que nossos olhos vêem."
BATICUM - Muito boa a sua participação Tainá e para concluir, deixa só uma poesia sua pra gente, vai...
O QUE É, O QUE É?
POR TAINÁ CLEIANE
O que é, o que é
Clara, salgada e pesada
O suor da que saiu da senzala fazem 128 anos, tem 58, e até hoje é escravizada
Não tenho o queijo na mão, presumo
Que seja uma farsa o que conta o testemunho
Penso, cadê a faca? Facada mal dada, que não aleja mas elege quem em torturador não vê falhas
Pátria desalmada de filhos sem pais
Mulheres solteiras, guerreiras
Corpos violados, ventres idolatrados
Fetos abortados em clínicas clandestinas, mas
A pátria me traiu
Me gritou vadia, me tocou a ferida
A "pátria amada" esqueceu de me amar
A pátria puta não me protegeu
Quando o bicho papão de 23 e 1,80
Bateu no colo e disse: senta
Mamãe foi à feira com 40 conto tentar comida na mesa botar
Papai foi trabalhar, correndo risco de se contaminar..
Ninguém. Ninguém tava lá pra me ajudar
Quando com suas garras ele tentou me tocar
Mas onde tava o "ninguém solta a mão de ninguém" quando eu precisei lá?
Feminismo seletivo, apoia branca, exclui preta
Feministo escravoceta que defende mulher pra comer buceta
Feminista liberal que mostra a teta no sinal, se apropria do "meu corpo, minhas regras" e faz as de 14 virar dele o motivo da punheta
É que cês milita sobre racismo, mas só te aflinge quando a bala atinge o preto
Se machuca mais uma mulher, é só menos uma no gueto
Já que a luta nunca foi por raça, mas por gênero
E o preferido nunca foi o feminino
Em mim põem um laço rosa e sempre entregam o troféu
Pra quem nem entende o que eu falo nas minhas prosa
Mas por ele ser do sexo masculino, sempre verão melhor sua proposta
Num país misógino Onde antes de poeta, mulher frágil a resposta.