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A leitura não é uma atividade solitária, passiva. Ao desbravar as páginas de um livro, o leitor não apenas lê, mas é lido; sai compreendendo os dilemas universais e particulares.

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Andressa Mendonça

Andressa Mendonça [@leiotanto] Estudante de Letras Português - Literatura, criadora do perfil literário @leiotanto e fundadora da Biblioteca Comunitária Professora Maria Miguel. 

  Nas cartas que Khalil Gibran envia para Mary Haskell, seu grande amor, ao falar sobre o Belo, afirma que o ser humano que encontra a beleza não pode guardá-la para si. Aquele que a encontra, sente a inevitável necessidade de compartilhá-la, de mostrá-la ao mundo, na busca de proporcionar ao outro o sentimento que por ele foi sentido. Seria como na Alegoria da Caverna: quem encontra a Verdade não pode ser feliz sabendo que muitos vivem no plano das aparências.

  Na literatura, as coisas também funcionam assim: não há leitor que não sinta o desejo de falar sobre os livros que leu; que não sinta a necessidade de indicar suas melhores leituras para outros leitores; que não queira citar, em cada conversa, os trechos de sua obra favorita e que não encontre palavras de afeto para cada fase da vida nos livros de sua estante. A emoção foi feita para ser sentida em grupo.

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  Alberto Manguel é quem fala sobre esse compartilhamento. Em suas "Notas para a definição de um leitor ideal" conta que, há muitos anos, na beira da fogueira que a aquecia, a humanidade quis olhar para além, quis contar histórias e, ao contá-las, percebeu que alguns rostos demonstravam interesse. Desde então, ela conta causos, inventa, tece e borda narrativas.

  Por mais que o tempo tenha passado, não deixamos de usar as palavras para aguçar a imaginação, não deixamos de utilizar a literatura para desfazer os laços que acabaram virando nós. Maria Lajolo, na introdução do livro Ler e brincar, tecer e cantar - Literatura, escrita e educação, fala sobre a capacidade da literatura de nos fazer entrar em uma outra realidade e fazer com que voltemos para a nossa transformados, renovados. Essa transformação é de uma vida toda, pois como disse João Guimarães Rosa em seu Grande Sertão: veredas:

 

"O mais importante e bonito do mundo é que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que estão sempre mudando. "

  A leitura não é uma atividade solitária, passiva. Ao desbravar as páginas de um livro, o leitor não apenas lê, mas é lido; sai compreendendo os dilemas universais e particulares.

  Conhecemos pessoas e obras novas, discutimos os textos, somos livres para expor nossas interpretações. Aliás, como disse Cecília Bajour: o ato de leitura consiste em grande medida na conversa sobre os livros que lemos. De modo geral, a leitura não é apenas o momento de decodificação dos símbolos, mas de interação, de atravessamentos.

  É por isso que o leitor não morre sozinho; basta abrir um livro para que seja abraçado pelas palavras de alguém. Há quem diga que há um fio unindo as pessoas. Arrisco dizer que há muitos fios, sendo a literatura um deles; um universo, único verso.

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