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Bandeiras do arco-íris

ARTE E DIVERSIDADE

Heróis LGBTQIA+ Nas Histórias em Quadrinhos

Sempre fui fã de histórias em quadrinhos. Inclusive meu gosto por livros e leitura teve origem nas revistas da Turma da Mônica que meu pai trazia para mim das bancas do Centro de Fortaleza. Logo depois vieram os primeiros números do xerife cowboy Tex e por fim do super-herói Fantasma.

  A mitologia de super heróis sempre cativou meu interesse: sua origem, seus poderes, seus coadjuvantes, seus vilões etc. E havia algo sempre muito presente neles: heteronormatividade. Diversidade era praticamente inexistente. Somente o homem branco e hetero encontrava representatividade no universo dos super heróis.

  Avançando nas leituras, conheci os X-Men, um grupo de super heróis que eram temidos e odiados pela humanidade por causa dos seus poderes. Eram mutantes, ou homo superior, uma condição genética da evolução humana que lhe conferiam poderes diversos. Lutavam contra líderes religiosos e políticos conservadores que disseminavam discursos de ódio, preconceito e fake news, querendo torná-los párias da sociedade e até mesmo exterminá-los. Lembram algum grupo social específico da realidade?

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Nonato Ribeiro

Nonato Ribeiro [@nonatobiblio] Bibliotecário, leitor, nordestino e gay! Doutor em Ciência da Informação com interesse nas temáticas Informação e Diversidade sexual, Competência em Informação e Bibliotecas Universitárias.

  Em sua segunda formação, na década de 80, o grupo apostou na diversidade. Inseriram heróis de várias nacionalidades do mundo, como Tempestade, uma negra, africana e com poderes de controle do clima. Nessa época, a Marvel desenvolveu o relacionamento das vilãs mutantes Mística e Sina, que criaram Vampira, uma das novas heroínas da equipe. Elas eram um casal lésbico, mas apresentado de forma muito implícita, sem claramente expressarem a condição do casal, que só foi revelada oficial e publicamente pela editora em 2020.

  Por fim, em uma equipe de mutantes canadenses, a Tropa Alfa, temos o Estrela Polar, herói que existia desde 1979, mas somente assumiu-se homossexual em 1992, quando em uma história adotou uma criança com HIV.

Por anos, eu ficava procurando histórias dos X-Men com participação do Estrela Polar. Mas a verdade é que os roteiristas, em sua maioria homens heterossexuais, não souberam como desenvolver o personagem nos anos posteriores. Só em 2012, tivemos o casamento do Estrela Polar com seu companheiro de anos, Kyle, em uma bela história dentro dos quadrinhos dos X-Men.

   Só me senti realmente representado em uma história dos X-Men com o personagem Anole, já no começo dos anos 2000. Anole era um estudante do Instituto Xavier e personagem regular da revista dos Novos X-Men: Academia X, a revista focada nos jovens mutantes. Anole tinha poderes com origem nos répteis, como lagartos e camaleões, como língua elástica, camuflagem e regeneração dos membros. E isso afetava também sua aparência. Mas ver aquele personagem empoderado, assumidamente homossexual, perante a sociedade e perante si mesmo, era fonte de representatividade para mim, ainda em processo de reconhecimento e identificação.

  Dessa época para hoje, o mundo tem avançado muito nessas questões. As empresas não querem ficar de fora e quando o assunto é diversidade, a Marvel sai muito na frente. A equipe de Jovens Vingadores reúne heróis para todas as letras da sigla LGBTQIA+. Foi nessa equipe que aconteceu o polêmico beijo gay em uma revista em quadrinhos na Bienal de São Paulo em 2019, entre os personagens Wiccano e Hulkling (Imagem do início da matéria).

  A editora também vem desconstruindo alguns personagens clássicos, como o Homem de Gelo, membro da formação original dos X-Men, que assumiu-se gay em 2014. O Loki, geralmente representado como homem, tem aparecido em diversas outras versões, inclusive sendo retratado como um personagem pansexual. Em 2018 a editora criou Shade, codinome de Darnell Wade, um mutante e drag queen, como poderes de teletransporte. E anualmente, no mês do Orgulho LGBTQIA+, a editora tem publicado o one-shot Marvel Voices: Pride.

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  Para não ficarmos somente no rol de personagens da Marvel, na DC Comics a diversidade está presente há tempo nas histórias da Mulher Maravilha e as amazonas, com forte presença de lésbicas. Mais recentemente foi criada a personagem Bia, uma mulher trans, negra e amazona. No ano passado, uma história que apresentava Jon Kent, filho do Super Homem, como bissexual, ganhou as manchetes dos jornais. Por que, como Jon assumirá o manto do pai algum dia, em algum momento teremos um Super Homem LGBTQIA+.

  Agora, a diversidade tem extrapolado as páginas dos quadrinhos, e alcançado um público maior nas séries e filmes de super heróis, com grandes bilheterias e alcance na cultura pop. Apesar de tardia, cada vez mais pessoas LGBTQIA+ se sentem representadas.

E sim, REPRESENTATIVIDADE IMPORTA!

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