ESCRITA LIVRE
Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação: conceituação histórica ao hodierno
Francisco Jonas
Francisco Jonas Ferreira Silva [@j.onnas_] graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Gosta da Geopolítica Nacional e Internacional, estuda a área da comunicação e é um autodidata por natureza.
As práticas da Biblioteconomia se datam da antiguidade e das primeiras ações daqueles povos em organizar o conhecimento provindo do seu período. As grandes bibliotecas da antiguidade, como a grande biblioteca de Alexandria ou a de Nínive, são reconhecidas nos dias atuais por suas contribuições na área do conhecimento científico. As bibliotecas, por sua vez, não buscavam atender a um público amplo e diversificado, nelas se buscavam mais guardar, proteger, do que divulgar ou dar acesso (TANUS, 2016). Historicamente, com a maior parte da população não alfabetizada, o acesso aos meios dos quais as bibliotecas poderiam suprir era restrito a uma menor parcela que possuía certo grau de alfabetização.
Diante desse cenário, apenas com o aperfeiçoamento da imprensa de tipos móveis criada por Gutenberg, entre o século XV, é que se inicia uma reconstrução do acesso aos meios de informação, assim como a métodos de organização e distribuição ordenada, facilitando a busca rápida e prática ao conhecimento. A Biblioteconomia age nessa mudança. A imagem do bibliotecário passa a se tornar importante diante do seu conhecimento em coordenar tais práticas. Ocorre também, uma mudança social na forma com a qual os leitores se consolidaram. “Diante disso, o estabelecimento de uma Biblioteconomia científica, ocorre no século XIX, com a publicação não mais apenas de manuais, mas de obras que além do fazer, discutem seus assuntos, no âmbito teórico.” (TANUS, 2016).
Logo, com o contexto abordado acima, surgiram técnicas que hoje graças a um histórico de revoluções e atualizações podem se fazer construir o campo da Biblioteconomia e as habilidades e ações que o bibliotecário deve prover em suas funções:
Há uma série de funções altamente profissionais nas bibliotecas, cujo desempenho eficiente é decididamente dependente de formação apropriada, experiência e outras qualidades associadas a funções profissionais: desenvolvimento de coleções (seleção dos materiais) classificação; catalogação; referência; pesquisa em sistemas de recuperação da informação administração (planejamento estratégico, estudo do usuário, educação do usuário etc.) (DIAS, 2007).
Uma das definições encontradas para a documentação se diz que ela é a:
Arte de coletar, classificar e tornar facilmente acessíveis os registros de todas as formas de atividade intelectual. É o processo pelo qual o documentalista pode colocar ante o especialista criador a literatura existente sobre o campo de sua investigação, a fim de que ele possa tomar pleno contato com as realizações anteriores em seu terreno, e dessa forma evitar a dispersão de esforço na realização de uma tarefa já executada. (BRADFORD, p. 68).
Enquanto a Biblioteconomia se enquadra em questão da organização e da manipulação do controle de acervos e suas demais práticas, a ação do documentalista se baseia em tornar disponível a informação original registrada em artigos de periódicos, folhetos, relatórios, especificações de patentes e outros registros semelhantes na circulação da informação (BRADFORD, p. 69). Ou seja, com a demanda do conhecimento disperso pelo invento de Gutenberg e sua massiva circulação, se tornou mais do que necessário a configuração de outras profissões que tornasse o trabalho do bibliotecário progressivo em meio a tamanha demanda em circulação. A documentação se trata desse viés, um campo de atuação para facilitar o acesso do conhecimento, de forma válida, além de suprir possíveis carências das bibliotecas no atendimento aos seus usuários na busca pela informação.
A Biblioteconomia se postou, desde a antiguidade como uma área que necessita de outras para o seu aperfeiçoamento, a documentação se fez prestativa em assumir esse papel junto com outras que surgiram mais a frente e que podem fechar arestas feitas por esse campo em primeira análise. Em relação às partes que podem compor a documentação, se destacam duas características funcionais do profissional: a indexação e a disseminação da informação, ambas exigindo formação e experiência para serem bem desempenhadas.
A primeira se responsabiliza pelas ações prestadas fora das bibliotecas, podendo ser terceirizada e não se prende a atuação em uma biblioteca em específico. A segunda se caracteriza pela demanda atual de informar as pessoas com fontes concretas e objetivas, visando sempre a verdade em detrimento da informação. Por volta de 1968, Borko fez a publicação de um artigo de nome "Ciência da Informação: o que é isto?", traduzido para o português, em que buscou definir as bases dessa nova área e se possível suas origens. De acordo com ele, a ciência da informação é a “disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo e os meios de processamento para otimizar sua acessibilidade e uso” (BORKO, p. 3).
Depois de descrita a análise da Biblioteconomia sob a perspectiva do seu conceito histórico até a idade moderna com a influência de Gutenberg, é notória a capacidade de melhoria no acesso à informação. Diante disso, a Documentação e a Ciência da Informação formam disciplinas que compõem esse conjunto que assume como intercessão o campo da Biblioteconomia. A ciência da informação, assim como, a documentação, é uma objeto de estudo que exige a qualificação e uma formação avançada para entender e proporcionar o que BORKO define com sua conceituação (DIAS, 2007).
Depreende-se, portanto, que a ligação entre esses campos analisados: a Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Informação, são áreas e objetos de estudo que embora possam abordar pontos diferentes e estudos característicos, se complementam e se relacionam entre si. As origens da Biblioteconomia se fez necessária a criação de novos estudos para a melhoria no acesso à informação e conhecimento, diante disso surge o conceito da Documentação, e a Documentação por si só necessitava de uma disciplina que analisasse todo a veracidade e a maneira com a qual a informação ou o conhecimento era transmitido. Várias outras ciências ainda podem existir para compor essa base da Biblioteconomia e que contribua de fato para a manutenção e ordem da qualidade no acesso e a disseminação do saber, na medida em que ao decorrer do tempo surgiram tais práticas de apoio usadas no hodierno por muitos profissionais do campo.
Referências
BRADFORD, S. C. Documentação. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.
BORKO, H. Information science: what is it? American Documentation, v. 19, n. 1, p. 3-5, Jan. 1968.
DIAS, Eduardo José Wense. Biblioteconomia e Ciência da Informação: natureza e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 5, nov. 2007. Disponível-em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/556. Acesso em: 03 jun. 2022.
OLIVEIRA, M. de. A investigação científica na ciência da informação: análise da pesquisa financiada pelo CNPq. Brasília, 1998. Tese (Doutorado) - Departamento de Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília, Brasília, 1998.
TANUS, G. F. A constituição da biblioteconomia científica: um olhar histórico. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 14, n. 2, p. 217–231, 2016. DOI: 10.20396/rdbci.v14i2.8643878. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8643878. Acesso em: 3 jun.