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Livro aberto

CAPA

Bibliotecas Comunitárias: Compartilhando saberes para transformar realidades

Em 21 de Novembro de 2020, às 15 horas, a Biblioteca Central do Campus do Pici, a Biblioteca Adianto, a Biblioteca Comunitária Papoco de Ideias e a Biblioteca Comunitária Okupação promoveram de modo virtual, o I Encontro das Bibliotecas Comunitárias Populares, idealizado e organizado por representantes das quatro bibliotecas. Participaram do encontro um total de 54 pessoas, destas a maior parte dos presentes eram gestores e articuladores de bibliotecas comunitárias, além de ativistas sociais, produtores culturais e artistas.

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Francisco Moura

Francisco Moura [@chicomouraf] Coordenador do Arte na Biblioteca, arte-educador e estudante de cinema.

A lista de participantes conta com representantes da Biblioteca Comunitária do Araturi, Biblioteca Comunitária Papoco de Ideias, Biblioteca Adianto, Livros Livres Curió, Biblioteca da Filó, Biblioteca Bate Palmas Viva Palavra, Biblioteca Livre, Biblioteca Viva Barroso, Biblioteca Comunitária Jardim Literário, Biblioteca Comunitária Chico Parafuso, Okupação, Coletivo Muriaquitã, Somos todas Maria, Casa das Negas, Biblioteca Comunitária Adalberto Mendes, Espaço de Leitura, INEC, Sorriso da Criança, Revista Berro, Narcoteca - Biblioteca Comunitária, Nômade, Biblioteca das Artes; além de outras pessoas entusiastas que se articulam em torno das bibliotecas comunitárias e que tem desejo de montar uma biblioteca comunitária.

  O encontro teve como objetivo fortalecer os laços entre as bibliotecas comunitárias de iniciativa popular através da partilha das experiências de gerir uma biblioteca comunitária. O evento foi dividido em três eixos para melhor se debater as questões que afligem as bibliotecas comunitárias, são elas: “Propostas para as bibliotecas comunitárias: o que podemos fazer em parceria?”; “Caminhos e descaminhos das bibliotecas comunitárias: o que fazíamos, o que fazemos, o que faremos?” e “O desafio de manter as bibliotecas comunitárias: estratégias de manutenção dos espaços”.

  Acreditamos que a maneira mais verdadeira de escrever sobre as bibliotecas comunitárias é utilizando os relatos dos próprios participantes das bibliotecas comunitárias durante o Encontro, com isso pretendemos mostrar um panorama geral e diversificado sobre como as bibliotecas comunitárias são gestadas, as dificuldades enfrentadas, as possibilidades de sustentabilidade, além do poder transformador das ações para a comunidade.

  Bibliotecas Comunitárias são espaços normalmente localizados em áreas periféricas e criados quase sempre espontaneamente pela comunidade, sem nenhuma vinculação governamental, e que atuam como verdadeiros centros culturais e de cidadania, oportunizando o acesso ao livro, a literatura e outras formas artísticas a crianças e adolescentes. Não sabemos com precisão quantas Bibliotecas Comunitárias existem em Fortaleza, contudo observamos o surgimento de dezenas delas nos últimos cinco anos, a maioria de iniciativa popular, autogeridas por pessoas e coletivos sem vínculos com instituições, sejam públicas ou privadas.

  Para Machado e Vergueiro¹ as bibliotecas comunitárias surgem como um poder subversivo de um coletivo, uma forma de resistência contra-hegemônica, de quase enfrentamento social, que de forma empírica e criativa trabalham empoderando a comunidade, colaborando com o desenvolvimento social, potencializando talentos dos indivíduos e das comunidades, constituindo-se em espaços públicos voltados à emancipação, onde a prática cidadã pode aflorar de forma inovadora, criativa e propositiva.

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  Normalmente, a biblioteca comunitária é a única opção cultural do bairro, sendo responsável por promover em seus frequentadores experiências artísticas e culturais que lhes foram historicamente negadas, abrindo outras possibilidades de interação com o mundo. Danny Marinho. do coletivo Somos Todos Maria, nos conta do uso da leitura como tecnologia de redução de danos sociais, criação e reaproximação com o que nós somos ao apresentar temáticas e autores próprios da realidade do jovem periférico. Já Argentina Castro, da Papoco de Ideias, nos lembra da capacidade da leitura como ferramenta de emancipação humana ea efetividade de um espaço cultural que permita ter acesso ao livro de maneira fácil, próximo da sua casa e sem burocracias quanto a prazo de devolução.

  É importante lembrar que nem só de livros se faz uma biblioteca. Para além de empréstimos de livros, contação de histórias e rodas de leitura, as Bibliotecas Comunitárias promovem o acesso a outras linguagens artísticas como teatro, fotografia, música, cinema, artes visuais, auxiliando na promoção dos múltiplos letramentos cada vez mais necessário na sociedade informacional que vivemos, sendo capaz de diminuir as desigualdades de oportunidades a que os jovens periféricos estão submetidos. Destacamos aqui as experiências de jornais multiplataformas comunitários produzidos pela Livro Livre Curió, o Folha Curió, e pela Biblioteca da Filó, o Uma Filomena.

  Nos relatos de todos os gestores são notórias as transformações ocorridas na comunidade e do entorno das bibliotecas comunitárias, o espaço da biblioteca passa a ser ponto de referência na comunidade e de acordo com Argentina é considerado por país e responsáveis, que normalmente estão no trabalho, um espaço seguro e livre da violência urbana, do assédio sexual e do trabalho infantil. Rafael Rodrigues, da Biblioteca Viva Barroso, relata que após a biblioteca comunitária realizar atividades nas escolas do bairro e com a parceria dos alunos com a biblioteca Viva Barroso criou-se uma pressão para que a escola do bairro reativasse a biblioteca escolar.

  Apesar do trabalho de grande impacto de transformação social realizado pelas Bibliotecas Comunitárias com crianças e jovens da periferia de Fortaleza, o reconhecimento por parte do poder público ainda é insignificante, Talles Azigon, gestor da Livro Livre Curió, pontua que “a biblioteca comunitária promove desenvolvimento social local, justiça social, e justiça de conhecimento,  sendo um modelo eficaz para a política cultural já que estão próximas à comunidade, são agregadoras, tem baixo custo benefício e já apresentam resultados positivos”, como a recente pesquisa Retratos de Leitura² que aponta que os jovens e adultos de periferia lideram o perfil do leitor fortalezense. Para Baticum Proletário, gestor da Biblioteca Okupação, “a união das bibliotecas comunitárias pode gerar uma pressão política para que existam recursos públicos permanentes para a manutenção das bibliotecas comunitárias, com processos menos burocráticos, como ocorreu na Lei Aldir Blanc”. Talles lembra da invisibilidade das bibliotecas comunitárias nos editais das secretarias de cultura, já que não existe categoria própria, mesmo com a quantidade de bibliotecas comunitárias e disseminação nas áreas de menor IDH.

  Além da iniciativa pública, outra forma de manter as bibliotecas comunitárias sustentáveis é a aproximação com o terceiro setor, e parceria com institutos sociais que injetam recursos para a construção e manutenção das bibliotecas, porém alguns gestores presentes no evento foram enfáticos quanto a perda de autonomia das bibliotecas quando submetidas a esses institutos. Outra forma de captar recursos é através de contribuições voluntárias e rede de amigos da biblioteca, Rafael, da Biblioteca Viva Barroso, tem experiência de 4 anos nessa dinâmica de pedir contribuições voluntárias e que mantém a biblioteca através dessas doações e se propôs a fazer uma oficina mostrando como ele organiza para conseguir doações.

  Como encaminhamento do I Encontro das Bibliotecas Comunitárias Populares foi lançada a proposta de realizar em 2021 um Festival das Artes das Bibliotecas Comunitárias, que consiste em utilizar as programações já existentes nas bibliotecas, coordenando-as e sincronizando-as em um evento semanal de grande alcance na cidade. Além do festival artístico os participantes propuseram a realização de oficinas de capacitação com gestores culturais, profissionais do terceiro setor e da universidade para que mais bibliotecas comunitárias consigam acessar a diversidade dos recursos disponíveis, seja por meio dos editais públicos, das organizações sociais ou da rede de doadores.

 

O evento pode ser visto na íntegra no link: https://www.youtube.com/watch? v=U6BhrQD2Gj0

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